Ela está cansada, está fardada de tantas promessas e mentiras, de tantos gostos e desgostos. Ela que sempre sonhara agora se esconde entre as pernas sentada perto de sua cama, jogada como um ser qualquer, ela que tanto presumira um dia ser alguém tão especial na vida, hoje sente nojo de si mesma, nojo do que lhe tornara o mundo, nojo por já não saber nem mesmo quem é. O suor que escorre em seu corpo, o sangue que sai piedosamente do seu nariz por falta de cuidado, o ruído do seu coração batendo, tudo isso já lhe incomoda, aonde foi parar aquela menina sonhadora, aonde se perdeu tanto amor pela vida? Tampouco sabe ela, ela se quer saber o que quer para a vida, já não sabe mais se escolhe sal ou açúcar ou se temperou direito a comida, aquela que já está a uma semana na geladeira, ela que tanto pedirá para as pessoas nunca pararem de sonhar, ela que tanto insinuava o amor, ela que copiosamente sempre almejou a vida. Tantos pensamentos soltos, tantos desejos, tanto amor, aonde foi que ela errou? Em que caminho ela tropeçou. E assim ela pergunta a si mesma aonde falhou.
Já debruçada na cama ela deixa que a luz sob o seu rosto lhe aponte como uma criminosa, tal que deixara tudo que um dia almejou ir embora sem ao menos protestar, ela que se considerava forte hoje não passa de uma qualquer. Ela que tanto odiava ser comparada, ela que não faz mais força por sua luz, ela que não sente mais o que produz. Quem a cegou a esse ponto? Quem sabe um viajante qualquer, alguém que talvez pudesse roubar o seu coração, alguém que insistiu em algo que já não deveria ser insistido, alguém que lhe tirou o próprio tempo e amor.
Agora ela deixa-se dormir em prantos, mas deixa-se, quem sabe amanha ao despertar ela já consiga melhor olhar o dia, quem sabe amanhã ela já sinta novamente o calor do sol, quem sabe amanhã ela possa lhe dizer o que ela quer ser quando crescer, quem sabe amanha ela pode lhe dizer o que é ser mulher. Mulher intensa, que chora, que ama, que vive e que pensa. Mulher Guerreira.