quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Não foi acidente

Era começo de inverno, era a primeira festa juntos após o nosso casamento. Estávamos felizes, éramos feito um para o outro. A festa estava linda, a banda tinha uma harmonia sem igual. Todos os nossos amigos estavam lá e você estava radiante. Diferente de outras festas decidimos antes de sairmos que quem levaria o carro não seria eu, então lá estava você e sua inseparável garrafinha d'água. 

Dançamos como nunca, e os seus olhos possuíam um brilho que eu jamais tinha visto antes. Era um brilho terno, carinhoso, um brilho cheio de esperança, um brilho que eu não conseguia entender. Ele possuía alguma coisa diferente. Se eu soubesse eu teria feito tudo diferente. Só tinha música brega, ao seu ver, pra mim era tudo normal e o mais importante era a sua companhia. Tudo muito lindo. Era uma festa, eu tinha aprendido a dançar e você estava ali comigo. 

Então começou a ficar tarde, o ar pareceu ficar ainda mais gelado e  depois começou a chover. Decidimos que depois iríamos embora, depois da nossa música, porque era uma música linda e em todas as festas ela estava. E assim seguimos.


Daqui pra frente as coisas começam a ser turbulentas e confusas. Mesmo depois de várias sessões com um psicólogo as coisas ainda estão confusas. Não me lembro boa parte do que aconteceu.

Lembro apenas de você jogando seu salto no banco de trás e gritando comigo pra eu fixar direito o cinto de segurança. Sempre mandona. Sempre você. Acho que foi por isso que deu tão certo, éramos perfeitos. Todos diziam que éramos o casal do "Eduardo e Monica". E eu tenho certeza de que éramos. 

Agora, agora sou só eu. Eu não tenho mais motivos pra voltar pra casa no horário, não tenho mais quem me chame por um apelido idiota. Não tenho você. Ainda está sendo difícil. Todos os dias eu venho aqui. Todos já me conhecem. Já ouvi diversas vezes "pobre homem, tão jovem e jogando a sua vida fora". Eles não entendem. Não entendem que a minha vida era você. Era você e alguém a tirou de mim. 

Eu não consigo me lembrar de nada, só lembro que eu gritava o seu nome e você não respondia. Lembro apenas de gritar e você não responder. Depois eu perdi o chão e não vi mais nada. Foi aí que eu descobri, que a vida tinha um plano e separou a gente.



Júlia faleceu há dois anos, um motorista bêbado invadiu a pista contrária e era ela quem estava dirigindo. Ela ao invés de Carlos era a motorista da vez. O carro onde os dois estavam saiu da pista e capotou. O motorista -que provocou o acidente- saiu ileso, apenas com alguns arranhões.  E por culpa de um inconsequente foi perdida uma vida. 


Assim como esta pequena história de Júlia e Carlos, há várias outras histórias por aí. Muitas pessoas perdem a vida por consequência de um terceiro, e muitas prosseguem com alguma deformidade causada pelos mesmos.
Há algum tempo atrás eu conheci uma campanha chamada "Não foi acidente", onde o próprio nome faz jus à causa. A campanha roda em torno sobre este assunto, motoristas bêbados que acabam tirando a vida de outras pessoas inocentes. É isso galerinha, seja consciente e valorize a sua vida e a do próximo. ;)